VAREJO E SERVIÇOS SE DESTACAM: O que isso significa para a economia?

Na última semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros dados referentes aos setores de varejo e serviços para o ano em curso. Surpreendendo as expectativas do mercado, ambos os indicadores apresentaram um crescimento considerável, oferecendo perspectivas animadoras para os meses seguintes. Vamos analisar os motivos por trás desses resultados e entender como os economistas interpretam esses números.

Varejo em Ascensão

As vendas no varejo registraram um impressionante crescimento de 2,5% em janeiro, conforme anunciado pelo IBGE na quinta-feira passada (14). Este dado, o mais recente disponível sobre o setor, revela que o varejo está atualmente operando 5,7% acima do nível pré-pandemia e 0,8% acima do seu pico registrado em outubro de 2020.

 

Esses resultados superaram amplamente as expectativas do mercado, que projetava, em média, um modesto aumento de 0,2% para o mês. Esta é a primeira vez desde setembro do ano anterior que o comércio varejista experimenta uma alta significativa, após dois meses de estabilidade e um mês de declínio em dezembro.

 

O excelente desempenho em janeiro conseguiu reverter o fraco resultado de dezembro, influenciado pela Black Friday do mês anterior. Normalmente, durante esse período, a população aproveita as promoções e antecipa suas compras em novembro, resultando em uma diminuição das vendas em dezembro. No entanto, em janeiro, com estoques mais abundantes, as varejistas podem lançar “saldões”, impulsionando as vendas.

 

Razões para o Forte Desempenho no Varejo

Uma das principais causas desse crescimento é o aumento nas vendas de alimentos. A categoria de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo registrou um considerável aumento de 0,9%, sendo o segmento com o maior peso na pesquisa (55,5%). Este é o chamado consumo discricionário, relacionado a bens essenciais.

 

No entanto, o aumento nas vendas não se limitou apenas a esse setor. Dos oito segmentos mapeados pela pesquisa, cinco apresentaram crescimento, com destaque para os setores de tecidos, vestuário e calçados (8,5%) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (6,1%). Este panorama é uma boa notícia para o varejo, que iniciou o ano com força renovada, como explica Yihao Lin, analista da Genial Investimentos.

 

O aumento do emprego e dos salários também contribui para esse cenário promissor. Com uma taxa de desocupação de 7,4%, a mais baixa desde 2014, e o pagamento de precatórios impulsionando o consumo, o mercado de trabalho está aquecido, incentivando o aumento das vendas.

 

Além disso, o acesso ao crédito tornou-se mais facilitado. Yihao Lin explica que isso está relacionado à redução das taxas de juros iniciada em agosto do ano anterior. Na última quarta-feira (20), o Comitê de Política Monetária do Banco Central cortou a taxa Selic para 10,75% ao ano, com a expectativa de chegar a 9% até o final de 2024. Com taxas de juros mais baixas, o custo do crédito também diminui, tornando mais acessível o consumo de itens mais caros.

 

No entanto, nem todos os setores conseguiram recuperar o patamar pré-pandemia. É o caso do setor de tecidos, vestuário e calçados, que ainda está distante das cifras registradas antes da crise. Cristiano Santos, gerente da pesquisa no IBGE, observa que este setor é o segundo mais afetado em comparação com fevereiro de 2020, perdendo apenas para o segmento de livros, jornais, revistas e papelaria.

 

Tendências no Setor de Serviços

No que diz respeito ao setor de serviços, este também apresentou um crescimento sólido em janeiro, com uma alta de 0,7%. Este foi o terceiro resultado positivo consecutivo para o setor, que acumula agora um ganho de 1,9% e está 13,5% acima do nível pré-pandemia. No entanto, ainda está 0,7% abaixo de dezembro de 2022, o ponto mais alto da série histórica.

 

Na Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), quatro das cinco atividades pesquisadas apresentaram aumento. Os destaques foram as categorias de informação e comunicação (1,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (1,1%) e transportes (0,7%).

 

Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa no IBGE, destacou o impacto positivo das atividades audiovisuais (27,6%), impulsionadas pelo período de férias, e da receita das empresas que trabalham com edição e impressão de livros, devido à produção de material didático. Ele também observou que os serviços de tecnologia da informação (3,8%) contribuíram significativamente para o bom desempenho do setor neste mês.

 

Impacto no PIB e na Inflação

Os dados recentes refletem uma economia mais robusta de maneira estrutural. Com surpresas em ambas as pesquisas, a economia brasileira parece estar em uma trajetória ascendente. Esses resultados levaram a Ativa Investimentos a revisar sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,7% para 1,9%.

 

É importante ressaltar que, embora o crescimento econômico seja positivo, pode levar a pressões inflacionárias. O aumento do consumo, combinado com a queda do investimento, pode gerar um viés inflacionário na economia. No entanto, por enquanto, as revisões do PIB não estão acompanhadas por revisões significativas da inflação.

 

Embora a inflação possa aumentar no futuro, ainda é cedo para tirar conclusões definitivas sobre o cenário econômico para 2024. Mais dados serão necessários para avaliar o impacto completo do crescimento econômico nas diferentes áreas, incluindo o mercado de trabalho e os padrões de consumo da população.

 

Esses números recentes, além de refletirem uma recuperação econômica em curso, também levantam questões importantes sobre a estabilidade macroeconômica e a gestão da política monetária.

 

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, ressalta que as surpresas nos indicadores de varejo e serviços foram amplamente distribuídas, indicando uma tendência de crescimento estrutural da economia. No entanto, ele também alerta para os possíveis efeitos negativos, como pressões inflacionárias decorrentes do aumento do consumo.

 

Por outro lado, Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa no IBGE, destaca os aspectos positivos do crescimento, como o aumento da receita em setores-chave, como serviços audiovisuais e tecnologia da informação.

 

Quanto às projeções futuras, é importante acompanhar de perto a interação entre o crescimento econômico e a inflação, bem como monitorar o comportamento dos consumidores e a dinâmica do mercado de trabalho.

 

Esses novos dados do IBGE proporcionam uma visão valiosa sobre a saúde econômica do país e fornecem insights cruciais para formuladores de políticas, investidores e empresários que buscam entender e antecipar as tendências do mercado nos próximos meses.

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